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ROTEIRO DE ATIVIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA E GEOGRAFIA 8º E 9º ANO

LÍNGUA PORTUGUESA

  1. Leiam o texto.
  2. Reflitam sobre a estratégia do autor.
  3. Façam os exercícios propostos.
  4. Encaminhem as respostas via face; google classroom, ou façam no caderno para posterior correção.

O Racismo

– Escuta aqui, ó criolo…- O que foi?

– Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.

– E não existe?

– Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca… É, não adianta. Negro quando não faz na entrada…

– Mas aqui existe racismo.

– Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia… E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.

Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!

– Eu insisto, aqui tem racismo.

– Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?

– Não, mas…

– Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?

– Eu sei, mas…

– Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.

– É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.

– Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.

– Mas isso é racismo.

– Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.

– Sim, mas…

– Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.

– Pois é, mas…

– Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.

– Pois então. O …

– Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.

– Mas…

– E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.

– É, mas…

– E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.

– Sim, mas…

– E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

Luis Fernando Veríssimo

1. Sobre o texto responda:

a) Quem são as personagens?

b) Qual é o assunto da conversa das personagens?

c) Qual é o objetivo principal do autor do texto?

d) O personagem branco acredita que não há racismo no Brasil. Para defender essa ideia, ele usa uma série de argumentos. Os argumentos utilizados por esse personagem ajudam a embasar sua tese? Por quê?

e) Quais foram os recursos utilizados para criar efeito de humor no texto?

 f) No texto, o personagem negro é interrompido várias vezes ao longo da “conversa”. O que isso comprova?

2. Ainda sobre o texto, assinale a alternativa correta ou faça o que o exercício solicita.

I. No texto, o homem branco usa palavras e expressões como “negro de alma branca”, “raça de safados”, “macaco” e “cabelo ruim”.  Isso indica que o:

a) racismo não existe no Brasil.

b) personagem negro estava errado.

c) racismo se faz presente apenas nas palavras.

d) personagem branco é preconceituoso.

e) preconceito não se manifesta na linguagem.

 II. O homem negro apresenta um único argumento para comprovar o que pensa:

 “- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.”

 O homem branco contra-argumenta afirmando que o seu interlocutor

a) tem liberdade.

b) precisa aprender qual é o lugar dele.

c) pode “bater” um samba no clube.

d) deve evitar namoro com moças brancas.

e) está sendo preconceituoso.

 III. Pode-se dizer que predomina no texto a ironia.  Transcreva abaixo o trecho que considerou mais irônico no que se refere à inexistência de racismo no Brasil.

 IV. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca…

 O provérbio utilizado no trecho em questão demonstra, além de racista, que o “amigo” sempre considerou o negro como uma pessoa:

a) De boa índole.

b) Gentil.

c) Educada.

d) De pouca estirpe.

e) De família honesta.

 V. Assinale a alternativa que mostra claramente o preconceito do branco:

a) criolo

b) negro

c) beiçola

d) macaco

e) todas as respostas estão corretas

 VI. A única palavra que não é utilizada no texto de modo pejorativo é:

a) cara.

b) negrice.

c) macaco.

d) burro.

e) safados.

GEOGRAFIA

Assunto principal: A situação  dos negros no Brasil.  

Habilidades:  Entender as comunidades humanas de quaisquer etnia e sua relação com ideologias racistas e a discussão existente se existe ou não democracia racial.

Democracia racial…Vidas negras importam sempre

geografia no tempo

Democracia racial é o estado de plena igualdade entre as pessoas independentemente de raça, cor ou etnia. No mundo atual, apesar do fim da escravização e da condenação de práticas e de ideologias racistas, ainda não existe democracia racial, visto que há um abismo imenso que segrega populações negras, indígenas e aborígenes da população branca.

O que é democracia racial?

Quando falamos em democracia em sentido amplo, não estamos falando apenas de possibilidade de participação política mas também de igualdade de direitos, igualdade social, igualdade racial e liberdade garantida a todas as pessoas.

Pensar em democracia racial requer, portanto, pensar em uma sociedade em que todas as pessoas, independentemente de sua origem étnico-racial e da cor de suas peles, sejam livres e tenham direitos iguais.

A democracia racial ainda não existe, mas deve ser buscada para que tenhamos uma sociedade justa.

Devido ao passado de escravidão, racismo e exploração de territórios africanos por parte de nações europeias que deixou uma imensa cicatriz de preconceito e discriminação em nossa sociedade, além do terrível holocausto que sentenciou à morte injusta milhões de judeus, a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A declaração enfatiza a igualdade de direitos entre todos os seres humanos, independentemente de raça, cor, religião, nacionalidade ou gênero.

Segundo o art. 2 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”|1|. O reconhecimento de direitos iguais por parte da ONU consiste num importante passo para o estabelecimento da democracia racial no mundo.

Constituição da República Federativa Brasileira de 1988 também enfatiza o estabelecimento de direitos iguais entre pessoas independentemente de qualquer elemento distintivo. O art. 5 da Constituição diz o seguinte: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”|2|. Apesar de não mencionar diretamente a questão étnico-racial, o trecho citado do documento atesta que não pode haver discriminação de qualquer natureza, ficando implícito que discriminação racial não é permitida.

Os documentos citados são ferramentas importantes para a construção de uma nação onde haja democracia racial, no entanto, não basta a promulgação da lei, sendo necessário que ela seja cumprida. Para além da discriminação e do preconceito racial, muito precisa ser feito para que um país seja, de fato, considerado uma democracia racial.

Devido ao fato de existir um racismo estrutural que segrega negros e brancos em classes sociais diferentes, que dificulta o acesso da população negra a serviços básicos de educação, saúde, segurança e ao emprego digno, faz-se necessária a tomada de medidas de reparação histórica para que uma nação seja, de fato, uma democracia racial.

Existe democracia racial no Brasil?

A resposta imediata à pergunta iniciada no tópico é “não”. Não existe democracia racial no Brasil, como não existe democracia racial em qualquer lugar do mundo. Existe, no máximo, um mito de uma democracia racial pelo fato de o racismo aqui não ser tão evidente quanto é nos Estados Unidos, na Europa ou na África do Sul.

Os Estados Unidos e a África do Sul mantiveram sistemas legais de segregação racial que perduraram, no caso dos Estados Unidos, até a década de 1960 e, no caso sul-africano, até a década de 1980. Nesses casos, a população negra era tratada como cidadã de segunda categoria, tendo acessos restritos a serviços públicos e direitos civis restritos ou até negados.

A escravização dos negros no passado é o principal fator que ainda impede a formação de uma sociedade democrática para negros e brancos.

Desde a abolição da escravatura no Brasil, nunca houve lei restritiva que segregasse oficialmente a população negra da população branca. No entanto, há uma ideologia racista que perdura até hoje e, sobretudo, há um racismo velado, estrutural, que mantém a população negra à parte da plenitude de seus direitos em nosso país.

Segundo Kabengele Munaga, congolês naturalizado no Brasil e professor emérito de Antropologia da USP, “a democracia só será uma realidade quando houver, de fato, igualdade racial no Brasil e o negro não sofrer nenhuma espécie de discriminação, de preconceito, de estigmatização e segregação, seja em termos de classe, seja em termos de raça. Por isso, a luta de classes, para o negro, deve caminhar juntamente com a luta racial propriamente dita”|3|. Desse modo, o racismo estrutural brasileiro é um impedimento para que haja ascensão social dos negros, e, enquanto houver distinção de classes sociais marcada também pela cor da pele, é impossível falar-se em uma democracia racial.

racismo estrutural é aquele que não é explícito em um preconceito e uma discriminação clara e distinta, e  está enraizado na sociedade.

 O racismo estrutural finca-se nas bases da sociedade brasileira e só é perceptível por um olhar apurado que veja a discrepância de renda, de empregabilidade e de marginalização da população negra em relação à população branca. Pelo fato de o Brasil não ter apresentado um projeto oficial de segregação entre negros e brancos, houve aqui a disseminação de uma ideologia (ou mito) da democracia racial.

O que é o “mito da democracia racial”?

Mito é algo irreal, inexistente, uma narrativa fantasiosa. Falar em “mito da democracia racial” leva-nos a interpretar que a democracia racial não existe. De fato, atualmente, sobretudo no Brasil, a democracia racial é uma lenda. Boa parte do senso comum afirma que no Brasil não há racismo, que nele há uma democracia racial pelo fato de não haver uma divisão de raças tão forte quanto há nos Estados Unidos atualmente.

O livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, expõe uma suposta relação cordial entre negros e brancos.

A obra fala do homem cordial e da relação entre o dono branco e seus escravos que ali estavam para servir. Casagrande & senzala aborda especialmente aspectos relacionados a miscigenação, ocorrida com tanta intensidade potencialmente porque havia poucas mulheres brancas disponíveis na colônia. A igreja Católica, diante desse cenário de escassez, incentivou o casamento de portugueses com indígenas (jamais com negras).

É uma obra muito importante, afinal foram cerca de 5  milhões de negros que foram escravizados por mais de 300 anos e marcaram  profundas relações sociais em um país de desigualdades vergonhosas e comandadas por brancos.

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